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A inconsistência do ArtWorld: não era para ser sobre valor e sim sobre alcance

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

A reprodutibilidade é o canal através do qual as descobertas científicas se tornam inovações, curas e oportunidades comerciais futuras. É também o barômetro pelo qual as gerações futuras podem validar independentemente todo o progresso que veio antes delas.


O estudo filosófico das artes e seu entendimento durante a história da humanidade é um desafio que encaro diariamente na tentativa de melhor compreender como toda essa produção que colecionamos hoje no mundo pode vir a nos ajudar com novas construções.


Selecionar um objeto de estudo é como desnudar, peça à peça, uma pessoa que se veste com as mais diferentes e incongruentes indumentárias, a construção dos conceitos que encaramos diariamente na maioria das vezes não é feita de forma pensada, ela acontece através do tempo, e o que temos que enxergar geralmente é que existem divergências dentro dessa construção, divergências que devem ser salientadas para poder-se moldar novamente a ideia, para que esse conceito não seja apenas entregue, mas que ele continue se transformando conforme nossos olhos se adaptam à novas realidades.

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Numa motivação de compreender como a internet além de ser um meio de reprodutibilidade infinita de conhecimento e grande aliado na distribuição de informação pode nos ajudar a trazer para o hall do conhecimento – ou do entendimento da existência  – de alguém o que quer que a gente queira, seja isso um conceito através de um verbete de dicionário, ou um artefato hindu que hoje encontra-se em display em algum museu da Grã-Bretanha, dimensões espaciais já não influenciam no alcance das ideias, ainda enfrentamos barreiras no que diz respeito ao mundo físico, mas a experiência de ser confrontado com a existência de algo que antes parecia impossível e longedemais já acontece mesmo que através de uma tela, e isso não deveria ser um problema.


Em meados de 1930, Walter Benjamin já se preocupada com a desenfreada reprodução de trabalhos artísticos, veja bem como essa denominação carrega em si já uma grande prepotência, ao passo que aparentemente esses trabalhos seriam bom demais para serem reproduzidos. Ele nomeia ‘Aura’ aquilo que confere unicidade a cada trabalho, então a partir daqui á podemos definir que só possui aura aquilo que é cotado pelo mundo da arte como arte, toda e qualquer experiência produzida fora desse significado meticulosamente conferido por aqueles que tem um certo discernimento – /irony/ – já as demais produções não teriam tal peso ou significado por serem desprovidas de aura.

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Fazendo uma análise um pouco mais descarada, aparentemente a arte não foi feita para ser reproduzida, quanto mais ensinada para meros mortais. A importância que se dá aqui à originalidade como se houvesse uma não foi construída de ontem para hoje, e não é minha intenção diminuir a técnica de reprodução empregada por um artista no seu trabalho, devemos compreender sim o valor da desenvoltura do mesmo mas o que vê-se como aura cria um distanciamento desumano do que se chama arte e de seu observador, ao passo que o artista está num patamar inalcançável de compreensão, e os mortais, bem, esses provavelmente nem entenderão.

“Nossas belas-artes foram instituídas, assim como os seus tipos e práticas foram fixados, num tempo bem diferente do nosso, por homens cujo poder de ação sobre as coisas era insignificante face àquele que possuímos. Mas o admirável incremento de nossos meios, a flexibilidade e precisão que alcançam, as idéias e os hábitos que introduzem, asseguram-nos modificações próximas e muito profundas na velha indústria do belo. Existe, em todas as artes, uma parte física que não pode mais ser elidida das iniciativas do conhecimento e das potencialidades modernas. Nem a matéria, nem o espaço, nem o tempo, ainda são, decorridos vinte anos, o que eles sempre foram. É preciso estar ciente de que, se essas tão imensas inovações transformam toda a técnica das artes e, nesse sentido, atuam sobre a própria invenção, devem, possivelmente, ir até ao ponto de modificar a própria noção de arte, de modo admirável.” (Paul Valéry, Pièces sur l’Art, Paris, 1934; “Conquête de l’Ubiquité”, pp. 103,104.)

Os questionamentos acerca de entendimento de arte vão além do que se pode realmente responder, não tenho uma resposta sobre como deve-se ensinar, ou se é que deve-se ensinar a leitura de um objeto artístico. Cabe a necessidade do entendimento histórico e evolutivo das técnicas, dos conceitos, das produções e, é claro, daqueles que as produziram, mas há necessidade também de uma leitura cautelosa de aproximação, no tocante de que não há entendimento quando há um abismo entre o objeto e aquele que o lê.

É necessário constantemente pensar no sistema de retroalimentação no qual a sociedade se baseia, as cópias são parte desse entendimento evolucionário que passamos, e são formatos de compreensão reproduzidos por determinadas pessoas. É complicado e até errado definir bases comparativas para entendimento quando esse baseia-se no julgamento a partir do que o sujeito que julga considera legítimo.

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