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Beckett: Esperando Godot

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

Escrita por Beckett em 1949, Esperando Godot, ela é uma peça importante na construção da literatura modernista. A obra do Beckett, considerando sua produção de modo geral, se desenvolve em torno do avesso da capacidade humana, a falha, ele privilegia então um lado do ser humano que ainda não era tão trabalhado na época, que é a capacidade de rir de i próprio, de perceber o que há de tragicômico na existência.

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O autor então se utiliza de personagens em sua maioria das vezes marginalizados e assim distancia o leitor de sua realidade anestésica, que impede que realizemos uma constante reflexão sobre a vida. Através desses personagens, Beckett remete à necessidade analítica humana, que se ocupa de tentar esmiuçar toda e cada mínima parte do cotidiano, como vemos bem acontecer com Vladimir e Estragon.


Beckett cria, na sua peça, um momento de deslocamento, que vai contra o heroísmo trabalhado no romance, no qual ele resgata as frustrações cotidianas em um cenário quase que paralelo à existência, como um ‘lugar nenhum’. Nesse cenário em que ele traz ‘Didi’ e ‘Gogo’, Beckett os mune de um discurso racionalista quase que metafísico que espanta a quem os acompanha, apesar de toda essa capacidade intelectual o autor coloca os personagens como capazes, porém ao mesmo tempo estagnados, mostrando que todo seu conhecimento não é um meio para realização de algum fim, apenas a eterna busca.


Em ‘lugar algum’ temos poucas marcas de referência à realidade e ao momento, ao passo que a guerra mal é mencionada, dessa forma esse deslocamento permite que haja um foco na situação. A espera incerta que os personagens vivem se comunica com várias formas de frustração que perpassam nossa vida cotidiana.

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O assunto principal tratado em Esperando Godot é a espera incerta que assola Estragon e Vladimir. Do começo ao fim dos atos os dois personagens esperam por Godot, mas não sabem bem se este é o nome de quem esperam, não tem certeza também de que se encontram no lugar certo ou a que horas o homem virá.


Com o seguimento do argumento da obra observa-se então que ela nada mais se preocupa a não ser com a impossibilidade da escolha, não há uma desenvoltura dos personagens e da história como acontece no teatro grego, essa peça desconstrói a estrutura do teatro convencional.


Dessa forma, a história que parece não se desenvolver tem uma temporalidade marcada pelo diálogo e no fim do primeiro ato pelo anoitecer. Por ter uma abordagem não tradicional a peça tem uma distribuição da tensão em seu enredo, no qual se inicia e termina da mesma forma, sem uma introdução e um desfecho como o que seria esperado.


A peça é composta por dois atos muito similares, a história mostra Gogo que é um sujeito mais racional que possui uma imaginação poética, e Didi que é totalmente voltado para as distrações, embora suas personalidades funcionam de maneira complementar na construção da trama. O motivo da peça é a espera em si, a espera incerta, que se relaciona diretamente com a nossa experiência de vida contemporânea e especialmente à vivência do Beckett no pós-guerra, que vivia clandestinamente no sul da França e estava circunstancialmente ‘à espera’ do que poderia acontecer quanto à sua situação, mas sempre sem saber se aconteceria de fato algo ou o que aconteceria se fosse o caso. Sem fazer referências diretas ao seu momento histórico, o autor introjeta suas experiências nos trejeitos dos personagens a fim de trazer uma percepção mais ampla que possibilita a identificação de quem os assiste, deixando os questionamentos sempre em aberto e mostrando que as experiências atravessam os atos cotidianos e são questionáveis em inúmeros níveis.

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A relação de simbiose que se completa na obra é muito interessante na construção da peça. É possível analisa-la de perto com a entrada de Pozzo e Lucky, que permite uma nova dinâmica em palco e traz à tona o processo analítico construído por Vladimir e Estragon de forma pontual.


O fim do primeiro ato que se dá pela chegada de um terceiro personagem anunciando a ‘não vinda’ de Godot  e a subsequente chegada da noite e a decisão de sair dali, é quase que uma referência direta à prática do teatro, no sentido de que se representa a mesma peça toda noite, essa analogia fica evidente quando o segundo ato se inicia, já que este é quase que uma cópia fiel do primeiro, os personagens se encontram no mesmo lugar para dar continuação às suas incursões pela incerteza.


O que Beckett faz ao trazer uma peça como essa é ressaltar a comicidade da existência grotesca do ser humano, revelando a necessidade e questionando a tradição de representar sempre pessoas que não refletem seus mecanismos interiores, as circunstâncias da própria vivência e a interrogação da razão.


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