Comecei recentemente a ler um livro que para mim promete ser dos mais reveladores sobre Van Gogh.
Saindo de uma afinidade que começou com a admiração das suas obras e lentamente se transferiu em completude para o âmbito pessoal, em um tocante psicológico, minha vontade de aprender sobre Vincent e sua trajetória é uma constante.
Ao longo dos anos tenho colecionado leituras e estudos mais abrangentes sobre o pintor e ao acaso encontrei Cartas a Theo, livro que pretendia ler há certo tempo.
Ao começar a leitura percebo logo que meu trabalho será duplo, afinal é impossível ter uma boa compreensão se você conhece as referências trazidas por ele, logo, busco ler e pesquisar para acompanhar toda a progressão do discurso e também do desenvolvimento de seu juízo estético bem como do seu próprio estilo, afinal, beber na poça da inspiração é um feitio inevitavelmente humano.
Pensei então em montar um guia referencial, trazendo vez ou outra as obras referenciadas por Vincent, já que essa é uma pesquisa que tenho feito cada vez que passo uma nova página do livro.
Tem sido uma grata surpresa, rever grandes pinturas e conhecer novas obras é sempre um deleite, mas fazê-lo por quase que uma indicação direta de alguém que eu muito admiro é indescritível, como se as cartas que um dia foram enviadas à Theo tivessem um novo destinatário.
Acredito que o platonismo que reverbera na minha fala se manifesta com mais frequência do que imagino, afinal não tem como dividir tantas coisas com alguém sem que esse vínculo se crie, é sempre bom saber que não estamos sozinhos.
Agora vamos ao aspecto referencial da questão, farei essa publicação em grandes capítulos e de tempos em tempos, afinal, não caberia tudo de uma só vez e não seria prudente não dar a devida atenção as obras aqui trazidas.
Henri de Braekeleer – The atlas ou The Geographer
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The Angelus (L’Angélus) – Jean-François Millet (1857~1859).
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“Ache belo tudo que puder, a maioria das pessoas não acha belo o suficiente.”
Meeresstille – Poema por Heinrich Heine
“A respeito do Meerestille de Heine, que eu tinha copiado no teu caderno, não é? Há algum tempo atrás eu vi um quadro de Thijs Maris que me fez pensar nele.”
Paz no Mar*
Paz no mar! Num tranquilo esplendor Brilha o sol sobre as águas, E sulcando as preciosas ondas Segue um navio esteiras de esmeralda. No leme se estira o timoneiro Em sua barriga, levemente roncando. Perto do mastro está um garoto agachado Sem parar no trabalho, remendando a vela. Por sob a sujeira das bochechas Saem espasmos de sua boca larga, E a dor e a tristeza tomam conta De seus olhos grandes e amorosos. O capitão está de pé diante dele, Com raiva o culpa e repreende: “Patife! Patife!, você roubou um arenque Do meu barril, seu ladrãozinho!” Paz no mar! Acima da água Salta com destreza um pequeno peixe, Aquecendo seu corpo na luz do sol, Alegremente batendo sua barbatana. Mas uma gaivota que vem do ar Recai sobre o pequeno peixe do mar, E em seu bico a presa retorcida Leva numa viagem para o azul do céu. *Tradução livre.
A pintura a qual ele faz referência aqui, do artista Matthijs Maris, De Nieuwe Haarlemse Sluis bij het Singel, é conhecida popularmente como Lembrança de Amsterdam, ‘Souvenir d’Amsterdam’, e se encontra hoje no RijksMuseum.
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As referências ao pintor realista francês, Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875) nas cartas de 1875 são bem pontuais, embora anexo elas neste link, não consegui encontrar as obras referidas em nenhum banco de dados, logo não sabemos se há catalogação dessas ou se os nomes dos quadros tiveram alguma alteração a serem traduzidos.
Outro artista que aparece aqui é Ruisdael, o qual ele vê em Paris e comenta: “Os Ruisdael do Louvre são magníficos; especialmente O Bosque, A Paliçada e O Raio de Sol”.
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O Raio de Sol, Ruisdael
Eu comecei a ler o livro e tive a mesma ideia de encontrar os quadros. Acabei achando seu post🤩