O CONCEITO DE ARTE
Gombrich inicia seu texto com a seguinte afirmação “Uma coisa que realmente não existe é aquilo que se chama de arte. Existem somente artistas.”. De fato, a definição de tal termo pode ser conturbada a partir do momento que existem variações de obras – sejam elas pinturas (rupestres ou modernas), esculturas, músicas, … – e da sua conceituação ser baseada em concepções e vivências pessoais, de maneira que estas últimas podem influenciar no gostar ou não de determinada obra e assim no seu julgamento como arte.
O artista retrata aquilo que lhe agrada e que, aos seus olhos, deve ser mostrado aos outros, mas quando o observador analisa a obra não deve ver apenas a beleza das formas, pois este padrão muda constantemente de acordo com a sociedade e com o sujeito que observa, logo o contexto pode trazer a real intenção da obra permitindo então a visão do belo, dessa forma a beleza passa a ser subjetiva.
Assim como a beleza, a expressão também muda a maneira como o sujeito reage à obra, já que pode ‘tocar/influenciar’ o expectador de diferentes formas. Também deve-se analisar subjetivamente, pois não é toda obra que se entende ao primeiro olhar, necessita estudo e observação, sendo preciso também considerar as técnicas para avaliar esse quesito, pois há tempos atrás as obras não eram feitas com a precisão que são feitas hoje, no entanto, representavam com a mesma exatidão um sentimento ou textura, então não deve-se julgar também pela semelhança da obra com a realidade. É necessário questionar sobre a maneira como o artista retratou a realidade e o porquê para compreender sua obra, pois às vezes, uma caricatura distorcida de um animal pode não só representar sua forma física, mas seu sentimento, sua vontade, o que nos mostra uma dimensão diferente do retrato, que seria algo estático e meramente ilustrativo.
As noções que nos foram impostas relativas à exatidão do retrato não devem ser consideradas ao analisar uma obra, esta não precisa ser idêntica a nada, não precisa ser real, ela nos mostra o mundo através de outros olhos, os do artista.
Assim, padrões devem ser esquecidos para analisar uma obra, esta possui uma interpretação pessoal diante de determinados fatos que deve ser respeitada, sua visão é o objeto primário para a formação de uma obra, como citado no texto, Caravaggio (artista italiano que viveu por volta de 1600) fora ‘contratado’ para retratar São Mateus e ao revelar sua obra final, esta não foi aceita, pois as figuras representadas – um anjo e o santo – não se enquadravam nos padrões estéticos determinados naquela época, a obra teve tal repercussão que fora retirada da igreja e solicitaram uma nova pintura, que se adequasse às imagens previamente vistas, não aceitava-se uma nova interpretação. Este exemplo torna claro o que antes foi dito, a obra não deve manter-se nos padrões, não deve ser julgada pelas cores ou formas distorcidas e sim pela sua essência, ela é feita por uma pessoa com determinada ponto de vista para mostrar o mesmo às outras pessoas.
Outro fator que influencia na analise de uma obra é a harmonia da mesma, de modo que as cores e os objetos devem estar em ‘sintonia’, coisa que o artista faz por puro instinto, sem até ter uma explicação para mudar um tom de uma cor ou uma figura de lado. Essa harmonia é peculiar, cada artista alcança a sua. “Como não existem regras para nos dizer quando um quadro ou estátua está correto, é usualmente explicar com palavras exatamente por que sentimos que é uma grande obra de arte. Mas isso não significa que uma obra é tão boa quanto qualquer outra, ou que não se pode discutir questões de gosto.” (Gombrich).
É importante ressaltar que a obra tem sempre algo novo a acrescer, de forma que cada vez que olhamos surge um novo detalhe, sutil, mas que pode mudar toda uma interpretação antes feita e trazer um novo sentido, não deve-se ver uma obra com uma opinião pré-formada, deve-se estar de mente aberta e disposto a ter novas experiências.
A arte não é pré-definida, demanda tempo, observação e sentimento, não apenas aquele conhecimento de crítica que achamos em qualquer revista que postula que determinada obra é boa e que outra é ruim, toda obra tem seu ponto e sua beleza, mas está à mercê dos olhos do observador.
MASTODON: DRY BONE VALLEY
O vídeo se caracteriza pela adversidade artística encontrada, na sequencialidade de imagens, sem contexto à primeira vista, aparentemente aleatórias, mas que no entanto refletem a temática original da música.
O artista encontra-se numa espécie de purgatório, onde suas lembranças foram distorcidas, aqui, traduzidas pela transmutação entre fotografia e uma linguagem que remete ao cubismo (figuras 1,2 e 3).
No decorrer do vídeo são apresentadas várias vertentes artísticas, uma delas é a arte da xilogravura (figuras 4, 5 e 6), que apresenta ao expectador exemplos de bestiários medievais, personificações dos símbolos zodíacos e figuras pagãs em geral.
O vídeo é riquíssimo em linguagens artísticas e apresenta-nos uma infinidade de exemplos ao longo do mesmo, dentre estes, podemos citar a presença de Psicodelia, Intervenção, fotografia astronômica e, não obstante, a dualidade entre sagrado e profano, sempre presente na temática do clipe (figuras seguintes).
O vídeo é uma obra que se originou da mescla das várias linguagens artísticas supracitadas, traz consigo o significado da música em si, podendo ser considerada a tradução gráfica da mesma. É impossível entender a mensagem do clipe sem conhecer a letra da música, pois, uma se apoia na outra, temos um jogo entre a imagem e a escrita, sem a ideia de tormento que o autor traz na letra, o vídeo seria apenas uma sequencia de imagens caóticas, deixando assim, seu significado artístico para interpretação.
Como discutido acerca do significado de arte, devemos ser observadores com capacidade para perceber as diferentes vertentes artísticas e como elas podem ser empregadas, neste vídeo, temos uma mistura importante já que cada escola representa com particularidade um sentimento diferente, uma visão de cada fato descrito na letra da música.
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