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Ex Africa semper aliquid novi

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

[da África sempre há novidades a reportar]

– Caio Plínio Segundo

A fuga do estereótipo é sempre necessária quando pensamos em compreensão, não no sentido apenas de aceitação, mas de entendimento.


A primeira coisa que me faz refletir ao pensar em África é exatamente o que ouvi uma das crianças que acompanhavam a visita guiada hoje mais cedo, no CCBB – São Paulo, dizer: “sempre achei que a África fosse pobre”, ao assistir um dos clipes que a sala de mídia exibia.

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Frame do clipe “Johnny” – de Yemi Alade


Na visão de uma criança, de aproximadamente seus 8 anos, não é condenável essa falta de conhecimento sobre aquilo que os adultos não os ensinam, mas a partir do momento que as pessoas não fazem questão de abrir os olhos para uma realidade que é completamente distante do que se pensa.


Hoje no Brasil, podemos acompanhar o crescimento da preocupação em formar novos olhares sobre a cultura africana, já que temos, aqui em São Paulo, atualmente, duas grandes exposições com arte africana em cartaz: no CCBB e no Instituto Moreira Salles. Até o começo deste mês, o MASP também tinha em cartaz a exposição de Emanoel Araújo, que fez parte do programa de exposições dedicado às histórias afro-atlânticas.


Quando pensamos arte africana então, devemos abandonar as antigas máscaras cerimoniais e repensar sobre o desenvolvimento desse continente nos últimos anos, e lembrar que a produção deles se equipara as outras pelo mundo, tanto em questões tecnológicas, quanto idealísticas, já que ao tratarmos arte contemporânea não podemos dissociar arte e política.

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por Omar Victor Diop


Trazer os novos panoramas da arte africana para o centro da discussão vem alinhado com a necessidade de chamar atenção para o ponto de vista cansado e ultrapassado do que se define como arte, bem como do que se entende como África. É abrir as portas para novos olhares sobre a história e a atualidade que não participam mais da produção artística suprematista masculina e branca, dando assim voz e colocando em voga o exercício de olhar novamente para reciclar as imagens desfalcadas que perpetuamos.


“A arte contemporânea africana deu as costas a dois preconceitos longamente estabelecidos: de um lado o estigma do artesanato e da ‘arte de aeroporto’ e de outro as referências etnológicas. Ainda que não possam ser ignorados os efeitos do colonialismo, não deve ser subestimada a importância do intercâmbio artístico verificado na passagem do período colonial ao pós-colonial e, nesse contexto, a reação dos artistas em relação ao período que antecedeu a independência”. Alfons Hug


Olhar para o outro através do olhar dele mesmo é o que nos aproxima do entendimento da condição de outro ser humano, não é um relato sobre ele, é uma visão única, daquela realidade na qual esse indivíduo se encontra que nos permite entender que essa realidade de retratação é uma mão de duas vias.

“Quando discutimos a produção africana apenas no contexto do reconhecimento das audiências ocidentais, propagam-se falsas narrativas. Eu lembro […] quando visitei Seydou Keïta em Bamako. Perguntei a ele: ‘Por que você tirou todas essas fotografias?’. Havia dezenas de milhares delas, e ele disse: ‘Porque elas são boas’. Ele sabia que alguém eventualmente poderia fazer algo com elas, o que seria notável”. Okwui Enwezor


O crescimento então dessa necessidade de mostrar outros olhares e ensinar novamente sobre o continente africano, sua história e sua atualidade foi o que incentivou essa onda de exposições.

EM CARTAZ


O CCBB está (até o dia 16/07/2018) com a maior exposição de arte contemporânea africana já realizada no Brasil: Ex Africa. Com curadoria de Alfons Hug, a mostra conta com mais de 80 obras e reacende o debate sobre a contribuição da herança africana na formação da identidade brasileira. No IMS-Paulista você encontra uma exposição do maliano Seydou Keita, que reúne 130 fotografias do  artista Realizadas entre 1948 e 1962, suas imagens também mostram um período de transformação no Mali, quando o país caminhava rumo à sua independência. Por fim, SESC 24 de Maio tem também a exposição Jamaica, Jamaica! que mostra a complexa história de desenvolvimento musical jamaicano e como eles se tornaram um influência na produção musical mundial.

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Para mais reflexões sobre o trabalho fotográfico de artistas africanos de peso vale conferir o texto da Sabrina Moura para Revista Zum.


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