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JOGO DE CONTRASTES

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

Quando o concreto abre espaço para o verde, a paisagem se torna mais agradável, o clima mais leve e os jardins verticais revelam o caminho para o equilíbrio





O concreto ganhou espaço quando se discute desenvolvimento urbano, ao olhar pela janela no centro da grande São Paulo o que se vê é semelhante ao que se vê em qualquer megalópole, um grande labirinto cinza, mas isso está começando a mudar.

Há algum tempo paisagistas e arquitetos vêm tentando trazer soluções inteligentes e sustentáveis para balancear o peso do concreto com a necessidade de termos cidades mais limpas e visualmente agradáveis. Com o crescimento constante das cidades ficou cada vez mais complicado inserir o verde nos espaços de convivência urbanos, não era possível apenas reflorestar o espaço já que isso implica em mudanças estruturais severas, a solução veio então de uma ideia teoricamente simples, mas ainda pouco praticada: a verticalização dos jardins.





Em 1986 o botânico francês Patrick Blanc despretensiosamente sugeriu a construção de uma parede verde na Cité des Sciences et de l’Industrie – ou Cidade das Ciências – em Paris, o que pareceu uma ideia impraticável na época acabou por tornar-se a especialidade de Blanc. O botânico acredita que diante de uma parede verde o homem acaba impactado pela natureza, já que as plantas conseguem “dialogar” com o ser humano e expor toda a sua composição: raízes, folhas e flores; com esse preceito, hoje o Blanc é referência no assunto e possui uma série de jardins-obras-primas espalhadas pelo mundo, em seu portfólio estão cidades como Paris, Milão, Sidney, Tóquio, Hong Kong, entre outros.

O crescente interesse pelos jardins verticais é, não apenas pelo enriquecimento ornamental, que é indiscutível – mas por ser uma ideia inovadora e por demandarem pouco espaço ‘útil’, o que representa uma grande vantagem, já que na maioria das cidades espaços para construção de jardins horizontais são escassos, principalmente em áreas de alta densidade populacional. Este é o caso típico em muitas cidades: há falta de espaço para criar mais áreas verdes e sobram paredes nuas.





Outra consideração importante ao se levar em conta é o viés ecológico, sabemos que o aumento de superfícies concretadas e impermeabilizadas na cidade contribui para elevar as temperaturas e também para o aumento do escoamento de águas pluviais, além de ser uma das causas da redução da biodiversidade urbana. Dessa forma, os jardins verticais são mais que um adendo estético, mas trazem também benefícios ambientais e climáticos, sendo assim: quanto maior a superfície coberta, maiores também podem ser esses benefícios.

O princípio básico do paisagismo é entender a relação entre o ambiente natural e o ambiente construído, e conseguir assim criar espaços que permitam uma interação da cidade, da natureza e mais ainda das pessoas que convivem ali. Como disse o consagrado Burle Marx “O jardim é uma natureza organizada pelo homem e para o homem”, o desafio agora é conseguir criar paisagens que sejam tanto funcionais quanto belas, que estimulem o convívio das pessoas nos espaços urbanos e que também exerçam um papel na melhoria do ambiente.

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Recentemente projetos destacados como o High Line, em Nova Iorque, e o Parque Minhocão, em São Paulo, trouxeram essas propostas aplicadas quase que ao pé da letra, criando ambientes distintos que obedecem à mesma ideia, a melhoria da qualidade de vida nas cidades grandes.





O MINHOCÃO

O Elevado Presidente João Goulart, popularmente conhecido como Minhocão, é um lugar icônico na cidade de São Paulo, antes constantemente associado à degradação, ao trânsito e à poluição, tanto visual quanto sonora, o Minhocão é um dos símbolos da falta de planejamento urbano de São Paulo, refletindo claramente em uma estrutura pensada mais para os carros do que para as pessoas.

O marco, já causou discussões controversas, desde o debate de uma possível demolição ou transformação em parque – esse último veio ganhando cada vez mais força nos últimos anos. No entanto, existem uma série de entraves que permeiam as decisões com relação à grandes obras urbanas, mas basta olhar novamente para perceber que, nos últimos anos, algumas mudanças positivas ocorreram no gigante de concreto. Para quem não sabe, em primeiro lugar, o Minhocão é fechado para carros nos finais de semana, tornando suas pistas um espaço de lazer, de crianças à idosos você encontra pessoas de todas as faixas etárias se divertindo no elevado; em segundo lugar, em 2015, o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, assinou um decreto incluindo jardins verticais e tetos verdes como possíveis compensações ambientais para as empresas e construtoras na cidade de São Paulo, o que possibilitou o início das obras para que o primeiro corredor verde do mundo começasse a sair do papel.

Idealizado pelo Movimento 90º, o Corredor Verde do Minhocão é o nome do projeto que propôs essa revitalização do elevado. O projeto de impacto socioambiental, idealizado em 2013, teve seu início no fim do mesmo ano com seu primeiro jardim financiado pela Absolut Vodka, que trouxe visibilidade para a ideia e o Movimento 90º.

 A motivação para tal mudança veio a partir de um estudo realizado pelo Movimento 90º em 2013, que de acordo com Guil Blanche, paisagista e idealizador do movimento, permitiu mapear mais de 500 de empenas cegas (paredes lisas, sem janelas) apenas na região central da cidade de São Paulo, a necessidade de começar pelo Parque Minhocão veio das “condições de conforto ambiental” precárias, de acordo com Blanche.

Para o Corredor Verde do Minhocão, o Movimento 90o convidou um artista para pensar no projeto de cada parque. Matthew Wood, Daniel Steegman Mangrané, Renata De Bonis, Pedro Wirz, Christopher Page e o próprio Blanche são alguns dos autores catalogados para os projetos. Os artistas terão disponíveis uma pluralidade de 200 espécies vegetais para trabalhar, sendo assim, alguns parques contam com até 30 espécies, de acordo com Blanche, foram selecionadas espécies com propriedades específicas que se adaptam à condição vertical, de forma que com o passar do tempo, os jardins não necessitarão de mais cuidados que os jardins horizontais. É também interessante observar que dentre as espécies escolhidas, os artistas terão uma grande diversidade de cores, tamanhos e texturas, o que possibilita a formação de padrões e até desenhos, como optou o artista visual Pedro Wirz ao desenhar uma carranca em seu parque.


Hoje quem tem a oportunidade de passar pelo Minhocão, já vê a significativa diferença, além de trazer um ar de leveza ao emaranhado de concreto, os jardins tornam a paisagem urbana mais aprazível, afinal um pouco de cor não faz mal a ninguém.





Publicado em Revista ZUPI nº53

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