A definição de idade da Terra é toda baseada na nossa concepção de tempo, pensando nisso podemos dizer que hoje a Terra tem 4,54 bilhões de anos. Uma outra forma de mensurar a idade – e a vida – do planeta é baseado no que chamamos hoje de eras geológicas, uma série de divisões baseada em estruturas chamadas unidades cronoestratigráficas: éons, eras, períodos, épocas e idades.
A palavra éon significa um intervalo de tempo muito grande, indeterminado. A história da terra está dividida em quatro éons: Hadeano, Arqueano, Proterozoico e Fanerozoico. Os éons são divididos em eras, uma era geológica é caracterizada pelo modo como os continentes e os oceanos se distribuíam e como os seres vivos nela se encontravam.
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Nos últimos anos, surgiu uma teoria que cria uma nova era geológica chamada Antropoceno, cunha pelo cientista, Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química de 1995, o antropoceno vem com o prefixo grego “antropo” que significa humano.
Estaríamos então na época dos humanos. Por não ser uma época ainda oficialmente reconhecida ainda não há data de início precisa e oficialmente apontada, mas muitos consideram que começa no final do Século XVIII, quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima da Terra e no funcionamento dos seus ecossistemas. Outros cientistas consideram que o Antropoceno começa mais cedo, como por exemplo no advento da agricultura.
A definição, ou não, sobre uma nova era geológica são problemáticas considerando que estamos vivendo o presente momento, para esses recortes é necessário um certo distanciamento histórico, além de análise de transformações relevantes para a escala de tempo geológico.
O desenvolvimento humano parece sempre encontrar na barreira da inteligência artificial um limite, vamos começar esse texto explorando um pouco o futuro da hiperinteligência, um conceito recentemente cunhado por Lovelock no seu último livro, Novaceno.
Uma nova Era
James Lovelock, criador da teoria de Gaia, tem hoje 100 anos e publicou no último ano (2019) o livro Novaceno, que dá continuidade ao seu trabalho sobre uma nova teoria sobre o futuro da vida na Terra. A teoria do autor se desenvolve a partir do fim do Antropoceno, 300 anos depois, abrindo portas para o Novaceno.
A ideia do autor é que após a era dos Humanos, nós teremos a era das Máquinas. Com poder próprio de desenvolvimento, as inteligências artificiais alcançaram um grau de independência, chegando em um momento em que elas poderão desenvolver suas próprias IAs. Com poder cognitivo e de processamento infinitamente maior do que as inteligências desenvolvidas por seres humanos, elas serão como entidades independentes das questões humanas, que desempenharão papeis cruciais na manutenção da vida na Terra, auxiliando na busca de um balanço para garantir a sobrevivência no planeta.
A obra de Lovelock é uma divagação científica que considera com ponderação todos os pontos da evolução humana quando pensamos em pessoas e tecnologias, afinal, é complexo imaginar que seria possível barrar o desenvolvimento tecnológico no estágio que já alcançamos, é inevitável também refletir sobre o poder de desenvolvimento das próprias inteligências artificiais.
Robôs
Responsáveis pela continuidade do legado dos seres humanos, segundo o proposto por Lovelock, os robôs, ou o que na verdade aqui seriam simplesmente criaturas cibernéticas e eletrônicas, são o futuro da vida na Terra. Mas que fique claro, é uma vida bem diferente da que a gente conhece.
É interessante pensar que quando lemos a obra do cientista, ele menciona que em seu entendimento uma criatura vamos dizer “cibernética” é, além de portador de uma inteligência ultradesenvolvida, uma forma arredondada. As criaturas imaginadas por Lovelock estão longe do formato humanoide que imaginamos, fugindo quase que totalmente do imaginário popular.
Ainda fugindo das amarras que unem o desenvolvimento humano ao tecnológico, Lovelock discorre sobre o futuro na Terra, onde as criaturas inicialmente desenvolvidas por nós alcançarão sua independência a partir da capacidade de processamento e entendimento (ou conhecimento, use aqui o que lhe soar mais correto). As conjecturas do autor sugerem um futuro em que nos desvencilharemos das nossas criaturas, e por mero trabalho do curso natural das coisas nos tornaremos extintos, mas nosso legado viverá através dos seres sintéticos.
Para falar de robôs é interessante resgatar um pouco de história recente, para quem não sabe, o termo se originou de uma palavra checa, “robota”, que significa trabalho forçado – como sempre os caros robôs foram vistos unicamente como máquinas por seres humanos. Cunhado pela primeira vez na peça teatral R.U.R (ou Rossum’s Universal Robots), do escritor checo Karel Capek, encenada no ano de 1921. R.U.R. A peça conta a história de uma fábrica que utiliza conhecimentos superavançados em biologia, química e fisiologia para fabricar robôs em massa.
O desenvolvimento da literatura de ficção científica futurista se deu majoritariamente no século XX, Isaac Asimov se tornou um dos autores de referência do gênero, ele foi responsável pela criação do que conhecemos como as Três Leis da Robótica:
1ª Lei – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei – Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto quando tais ordens entrem em conflito com a 1ª Lei.
3ª Lei – Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não se choque com a 1ª ou a 2ª Leis.
Porque os seres humanos buscam se reconhecer nas criaturas artificiais? Seria possível desvincular o conceito de inteligência e consciência de vida e humanidade? Nossa relação com robôs, ou esses seres que insistimos que tomem uma forma humana e se mantenham sempre sobre nosso controle, ainda é embrionária.
Consciências Orgânicas e Artificiais
A capacidade de desenvolver consciência é o tema central de uma série de produções cinematográficas e literárias dos últimos anos. Aqui alguns nomes vêm à mente desde os clássicos de Isaac Asimov que abordaremos a seguir bem como outros títulos como Blade Runner e até Wall-E.
Pensar o desenvolvimento de Inteligências Artificiais é pensar no desenvolvimento de Consciências. Orgânicas ou Artificiais quando falamos de Consciência estamos pensando, de acordo com o dicionário Webster, em senciência ou consciência interna ou externa. Ao expandir um pouco os estudos sobre o significado de consciência é preciso explorar as definições científicas e filosóficas sobre o conceito.
Filosoficamente a consciência é um epifenômeno – “fenômeno secundário e condicionado por processos fisiológicos, e, portanto, incapaz de determinar o comportamento dos indivíduos”.
A consciência passou a ser efetivamente um objeto da filosofia com Kant, ao utilizá-la como mediadora entre o eu penso (de influência racionalista) e a coisa em si (de influência empirista), porém acabou por criar um dualismo insuperável entre estas duas instâncias. Todos os autores românticos e os filósofos idealistas pós Kant tentaram, ao seu modo, superar este dualismo do entendimento postulado por Kant. É nesse ambiente que nasce a filosofia hegeliana, que tenta mediar ambos os lados da relação sujeito objeto sem que haja um dualismo insuperável.
Questionamentos filosóficos e teorias científicas buscam explicar a consciência, a consciência age sobre o mundo ou apenas produz explicações sobre o que acontece ao nosso redor? Se a consciência estiver relacionada à capacidade de percepção seria possível desenvolver uma consciência artificial?
"Não podemos definir consciência porque a consciência não existe. Os humanos imaginam que há algo de especial na maneira como percebemos o mundo, e ainda assim vivemos em laços tão apertados e fechados quanto os anfitriões, raramente questionando nossas escolhas, conteúdo, na maioria das vezes, para saber o que fazer em seguida. "
- Dr. Robert Ford, Westworld
No próximo texto falaremos um pouco sobre a relação homem-máquina a partir do seriado Westworld, olharemos também para a construção do enredo em torno do livro bíblico e exploraremos um pouco o conceito de livre-arbítrio.
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