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O fetiche da força de vontade

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

Em tempos de hipermodernidade onde o egoísmo se disfarça de autocuidado, a procrastinação se esconde atrás da chamada falta de força de vontade.

Essa máscara que traveste nossos objetivos e os coloca nesse patamar inalcançável vêm para afagar nosso ego e trazer aquele sentimento leve de que ‘está tudo bem’ já que a distância existente entre realidade e os supostos sonhos é impassível de ser percorrida. Bom, nos dias de hoje diz-se fácil falar e difícil fazer, mas não seria esse egoísmo soft uma maneira de não encarar a realidade por si só? Quando nos resguardamos e não encaramos processos pelo fato de ser difícil demais estamos nos afastando cada vez mais da possibilidade de melhora, de crescimento e de talvez alcançar aquilo que almejamos. O fetiche da força de vontade e o conto de fadas do apaixonar-se pelo processo são romantizações modernas criadas por nós mesmos pela vontade de justificar a facilidade de desistir, na vida adulta temos que ser capazes de discernir a brutalidade da realidade física e a comodidade mental que buscamos, afinal é mais fácil ter inúmeros subterfúgios e justificativas para não sofrer, assim evitamos a dor tanto consciente quanto inconscientemente. Ao nos deparamos então com as entraves propostas pelos processos apenas não fazemos, e uma série de justificativas se seguem para massagear nosso eu incapaz. Incapaz por escolha, incapaz por medo.

A idealização de uma vida apenas com recompensas é o que nos impede de encarar as dores e dificuldades constantes dos processos, esses são lembretes constantes de que nesse plano de existência nós estamos expostos, e nos resguardar não é uma opção. O subterfúgio mental vem então para compensar o iminente perigo que se passa no mundo exterior, nos escondemos para balancear esse descontrole que assola a realidade física.

Temos então um novo tipo de vivência, aquela que só ocorre no mundo das ideias, longe da materialidade da existência, que deveria nos fazer questionar incessantemente qual a validade dessa realidade individual, já que como Platão há muito mostrou, através do Mito da Caverna, que o mundo das ideias não reflete a realidade, vivemos então numa Matrix individual, mergulhados em sonhos e nos distanciando constantemente da existência terrena.


Aqui, eu tomo a pílula vermelha: a volta à realidade física carrega consigo a necessidade de enfrentar o que ocorre no plano material, já que, diferentemente da Matrix, nossa realidade possui lugar e tempo definidos.

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