Numa atualidade que se cansa discutir a fragilidade e insignificância das relações há tanto pontuadas por Bauman nos resta introjetar essa quantidade massiva de informação a seguir vivendo. Não sei como a maioria das pessoas pensam, mas eu não sei calcular, não é veja bem que eu não saiba analisar os números, mas eu não transformo ações em significâncias matemáticas para compreender as relações, eu basicamente não me preocupo em analisar o que vem acontecendo entre eu e o próximo, pelo simples fato de que não vejo como um olhar objetivo se aplica a algo subjetivo.
A necessidade superanalítica que eu sofro – lembrando aqui que se o sofrimento culmina em aprendizado, logo, não cabe carrega-lo negativamente – no tocante à existência me fez querer dar uma chance diferente ao que chamo de relacionamento, porque se eu não acredito na benevolência do universo é preciso buscar algo para me agarrar.
Sigo então naquele belo vivendo e aprendendo e ouvindo uma série de ‘eu te avisei’s’ pelo simples fato de que com todas as mudanças que ocorreram desde que a humanidade é humanidade o ser humano se esqueceu a importância da importância do outro, e o que eu vejo hoje, olhando com um lupa sobre uma série de fatos recentes que me tocaram num âmbito totalmente pessoal, é como aparentar ser significa mais do que ser em si, e como aquela aparência se sobrepõe qualquer relação com o próximo.
Muitos dirão que isso é claro, bom, não é claro para mim, já que a escolha de acreditar nas pessoas não é exatamente consciente, então pelo bem da minha sanidade eu preciso decidir não me culpar por tentar ser uma boa pessoa.
Bem, partindo do princípio que eu – ou qualquer pessoa – precise montar uma bela duma carapuça de acordo com tudo aquilo que ela acreditar ser ‘muito legal’ aos olhos dos outros, podemos começar a pensar numa simples equação na qual imagem sobrepõe realidade. Não pode-se contar com a mímesis aqui, afinal tudo que se quer é esconder aquele formato disforme de pessoa que você considera ser. A construção dessa imagem na sociedade capitalista é intrinsecamente conectada ao nosso “bem maior” – aspas não são suficientes para pesar a mão na ironia que isso carrega – o dinheiro.
Se o dinheiro te subjulga como pessoa – sim, se ele passa por cima de você mesmo – imagine o que não faz com qualquer outra coisa que você queira construir, não é? Se suas amizades, seus amores, suas relações profissionais são todas forjadas a partir dessa bela casca, cuidadosamente moldada e lapidada a parecer tão agradável aos outros, nada aqui para mim parece real.
– Aqui esse texto merece uma pausa: a cultura do consumo não é um empecilho na formação do ser humano, mas a cultura do agradar é, ter coisas não é um problema enquanto essas coisas não são utilizadas para definir algo que você não é, ter coisas é saudável, é legal sim, e permite que você faça – um verbo relativamente mais importante que o outro – coisas para se expressar e não se montar, são coisas totalmente diferentes. –
Sendo assim, você passa o único tempo que você tem nessa existência – quem sabe haverá outras – construindo algo que parece belo, mas ele não reflete suas vontades qual a importância que você vai dar ao que é fruto disso? Porque aquelas pessoas que estão ao seu redor seriam significativas se elas não te conhecem realmente? Se você não pode por um segundo expressar o que você pensa, ou se vestir da forma como bem entende? Se você constrói – ou melhor, se você conhece alguém que constrói toda uma realidade – ironicamente nada real – baseada em uma criação de imagem ideal, perceba que a liquidez não vem da virtualidade ou da distância, vem da quantidade de nós mesmos que colocamos no que fazemos.
QUAL O SIGNIFICADO DISSO?
Eu não sei.
Mas como eu falei acima, eu cansei de me culpar por tentar ser uma boa pessoa.
Não adoeça pelos outros.
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