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Originalidade e autencidade: a aura no ambiente digital

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

A primeiro parecer, com o estabelecimento do meio digital como meio de criação e propagação de arte, a teoria proposta em 1955 por Walter Benjamin cairia por terra, já que quando não há diferenças palpáveis entre um original e uma cópia, o conceito de aura se perde.


A questão do entendimento da aura no meio digital perpassa pela questão do entendimento da originalidade, que perde todo seu sentido. Parece óbvio pontuar que ao se fazer uma cópia de um arquivo digital obtém-se a mesma linha de código que constrói o ‘original’, escrita através de 0s e 1s. A cópia sucessiva não descaracteriza o objeto como propunha Benjamin, não há perda de qualidade, ou depreciação material, se assim se a diferença entre cópia e o original deixa de existir, transformando o conceito de ‘edição limitada’ em uma mera convenção.


As mudanças que ocorreram no acesso aos meios de produção alteraram a questão da fonte do conteúdo, sendo assim, o aspecto da raridade passa a ser inexistente, podendo apenas ser artificialmente simulado.


Macroscopicamente então não é possível distinguir o original das cópias, mas, quando levamos em conta o processo de formação de um trabalho digital consegue-se criar um entendimento sobre qual fora criado primeiro.


Quando trazemos para a discussão o ensaio “From Image to Image File – and Back: Arte in the Age of Digitalization” de Goys, podemos ter uma nova perspectiva em relação à originalidade no meio digital, já que o autor traz para a atenção a diferença entre o arquivo da imagem e a imagem digital.


Ainda levando em conta Goys, é necessário lembrar que não existe a possibilidade de existir uma cópia sem que haja um original, e no meio digital o que se chama de original é o arquivo que dá origem à obra, seja um vídeo, uma foto, dentre outros. Apesar do fato que o arquivo da obra não seja em si a obra, e sim invisível, seu código é o que permite que a imagem seja visível. “the digital original […] is moved by its visualization from the space of invisibility […] to the space of visibility […]. Accordingly, we have a true loss of aura – because nothing has more aura than the invisible”.


Para Groys, a perda da aura que ocorre através da replicação sem limites só pode ser recuperada com a curadoria, trazendo essa obra de volta para o espaço de exposição, ou o espaço sagrado que confere o valor de culto, uma vez postulado por Benjamin, para resgatar a aura do trabalho digital seria então necessário definir para esta um lugar específico de exposição.


Como Benjamin coloca que mesmo a reprodução mais fiel em termos técnicos, à cópia falta um elemento: a existência única no tempo e espaço que faz com que o original carregue o conceito de autenticidade. É interessante colocar que a aura em si não é perdida, o que se perde é nossa habilidade de percebe-la já que ao replicar a obra depreciamos o aqui e o agora nos quais ela estava inserida em primeiro lugar.


Nas palavras de Groys, “a pós modernidade encena um jogo complexo de remoção de locais e recolocação em (novos) locais, de desterritorialização e reterritorialização, de remover aura e restaurar a aura”.A aura de um arquivo digital então é uma consequencia de sua invisibilidade, qualquer modo de reprodução e visualização do original já pressupõe um sacrifício da aura do mesmo com o objetivo de documentação. O original é um algorítimo invisível provavelmente não escrito pelo artista que desenvolveu a obra, o que vemos é uma documentação visual de uma performance, considerando que um software lê o código e o transforma num trabalho “original”. Estabelecendo então que os trabalhos digitais possuem uma aura devemos então questionar como preservar ou restaurar esta num ambiente digital, que permite que as cópias sejam indefinidamente feitas. Como Benjamin coloca, a aura como um fenômeno único em um espaço, independente de onde esteja, considerando isso, podemos analisar como o endereço eletrônico restaura a qualidade de unicidade do trabalho, já que este coloca em um único espaço – mesmo que virtual – todos os fragmentos que compõem a documentação do original invisível.


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