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poéticas de reciclagem: Rauschenberg, Foucault, Bakhtin

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

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O termo ‘poéticas de reciclagem’ nasce do pensamento sobre apropriação, ressemantização, recontextualização de qualquer pensamento.

A partir do que se conhece hoje por Modernismo e consequentemente tudo aquilo que se coloca após essa vanguarda, ou o chamado de pós-moderno, podemos perceber uma nova tendência, ou melhor, uma explicitação de um acontecimento já frequente, porém velado que se dá desde os primórdios da história da arte, o remix.

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Sem a necessidade de adentrar nos conceitos cibernéticos que englobam a palavra é possível remontar uma linha analítica cultural-social que nos mostra como os conceitos e ideias trabalhados sempre possuem um referencial naquilo que o precede. Se considerarmos o remix como um conjunto de práticas sociais e comunicacionais de combinações, colagens, cut-up de informações temos que tomar como base o processo evolutivo humano e suas consequentes produções (sejam essas do viés que forem) que são calcadas em processos anteriores, o que acontece é uma reconfiguração sistemática de práticas e espaços.

Our culture no longer bothers to use words like appropriation or borrowing to describe those very activities. Today’s audience isn’t listening at all – it’s participating.

Gibson apud Lemos, 2005e, p.3

Um dos artistas icônicos da era pós-moderna é Rauschenberg, o pintor e artista gráfico americano é conhecido por ter ‘antecipado’ o que viria a ser a Pop-Art e seu trabalho com colagens tornou-se uma grande referência para olharmos a arte também como uma construção histórica, que carrega em si própria uma carga de referências que não precisam ser claras para serem discutidas, e assim questionar as produções artística de uma forma mais humanizada, removendo-a do patamar inalcançável.

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Rauschenberg então, bem como seus contemporâneos, traz a arte para um lugar mais cotidiano, com o advento do dadaísmo e a corrente do readymade passa-se a especular a diferença entre a obra de arte e os objetos do dia-a-dia, trazendo à tona também o papel do observador no tocante do entendimento e da construção do significado.

Como o artista mesmo colocou, sua vontade era produzir “in the gap between art and life”, onde ele trabalha com o conceito de hibridização, fazendo chamar atenção em sua produção as inúmeras referências que permitirão a construção de um significado que não é único, mas parte de uma teia.

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Foucault, em seu livro  “As palavras e as Coisas”, nos faz entender que a raiz do pensamento moderno repousa na linguagem como extensão dos próprios modos de funcionamento da mente humana e de seus sujeitos, assim como a linguagem, as outras formas de expressão trarão esses reflexos de formação tanto individual quanto social.

Quando consideramos o resgate feito por Foucault do hipotético estado inicial da história do pensamento, que se localiza na anterioridade do século clássico, no ponto de indistinção entre palavras e coisas no sentido em que, tanto umas como outras, são entendidas como concretudes, e não como abstrações, já que o pensamento analógico, próprio da época anterior ao classicismo, concebe o “mesmo” se desdobrando em formas sempre semelhantes a si próprio, é possível analisarmos o fazer artístico como a ‘ideia’ nascida a partir do desdobramento de uma outra e assim sucessivamente.

Flaps (Marrakitch)

Tendo em mente esse processo construtivo é possível traçar um paralelo entre o conjunto de referências cozinhado por Rauschenberg e o heteróclito que Foucault diz trazer uma nova possibilidade de produção na qual não é preciso haver um denominador comum aparente, dando início a algo novo, ou positivo.

A análise ou entendimento desse resultado, porém deve ser cuidadosamente feita já que vivemos hoje inseridos numa cultura que valoriza o que já existe – garantindo a estes o direito da originalidade.

A questão da reprodutibilidade dos conceitos não deve invalidar as produções mas devem ser parte da construção e não compor uma replicação como todo, a intertextualidade como modo produtivo é válida, lidar com os dialogismos presentes é o que possibilita o nascimento de novas construções, como traz Bakhtin, a linguagem é sempre elaborada em relação à uma outra estrutura significante, estabelecendo um diálogo eterno que traz em si várias vozes e perspectivas.

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A heterogeneidade está contida na própria forma de ser da arte.

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