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The State of the Art / O elitismo hoje constantemente desafiado no mundo da arte não é uma construção recente, as pessoas sempre trataram a arte como um commodity de luxo sobre o qual não se possui influência e se mantém distante ao se considerar o poder de compra mediano da população, mas esse distanciamento se estende para além das fronteiras financeiras já que o entendimento e interesse sobre a arte não deve ser apenas relativo à sua posse mas também ao acesso e consequentemente reflexão. / O pedestal construído que hoje suporta a arte como um todo, e muitas vezes cria um abismo entre as próprias categorias existentes em se tratando de produções artísticas, afasta o expectador, que não se sente livre para formar a própria opinião, seja essa baseada ou não em fundamentos teóricos. O distanciamento causado pela construção social de um ‘bem’ fora do alcance e entendimento geral se enraíza na crença de que o artista é quase que um ser sobrehumano, dotado de uma percepção e habilidade inalcançáveis por nós, meros mortais. /A figura de um artista que não se esforça suficientemente para produzir suas obras e que tem suas produções como fruto de uma inspiração e dom divino contribui para um não-entendimento da arte, colocar esta como um acontecimento mágico e não humano aumenta o que hoje vemos como status mas também dissocia do seu proposito reflexivo-comunicativo, dando a esta uma carga incongruente, já que suas duas maiores características inerentes não dialogam. / Aqui é necessário levantar uma questão sobre o que cria essa separação entre a produção dos artistas visuais (levando aqui em conta a pintura como seu representante) e as outras linhas de produção artística? / Com o admirável mundo novo da tecnologia podemos perceber que há uma grande abertura para a descoberta de novos formatos e uma gama considerável de novos trabalhos artísticos que antes não teríamos acesso pela falta da possibilidade de exposição destes, o que determinaria uma mudança eminente na forma como as galerias trabalham mas ainda há uma estrutura enrijecida que parece estar receosa em admitir que essa mudança já que coloca em xeque toda as pré-definições do artworld relativas ao que é arte e o que não é. / A legitimação de um trabalho não ocorre no presente momento de sua concepção, na estrutura que estamos inseridos hoje existem caminhos a serem percorridos para que determinada obra seja definitivamente chamada de arte – a não ser que você já se encontre inserido e reconhecido como artista – essas vias não implicam apenas reconhecimento de técnica e ideologias, mas todo um processo que acontece com o passar do tempo. A questão aqui é que com a mudança relativa ao alcance das informações tornou possível o acesso mas não mudou ainda esse processo de ‘determinação’, o que acontece aqui é uma desconexão entre os mundos off-line e online na qual vemos que essa categorização da arte só é feita com o passar do tempo mas não é possível historicizar o presente. / Como a tecnologia poderia então nos ajudar a reestruturar ou quebrar esse sistema? / O problema do artworld não é a distribuição ou o enquadramento, é a percepção cultural sobre ele mesmo. O que se chama de ‘gosto’ é algo que evolui constantemente e busca um embasamento histórico para justificar-se como ‘bom’ ou ‘ruim’. A validação do gosto pessoal pelo artworld é o maior responsável pelo distanciamento sobre o qual falamos anteriormente e isso não apenas tira do expectador a sua própria reflexão, mas também influencia diretamente o mercado que ‘não permite’ que ele tenha liberdade para escolher o que quer ter mas sim cria segmentações nas quais o público não se enquadra, afastando o possível expectador-comprador e diminuindo as possibilidades de movimentação e interferência (no sentido de mudança de visão) desse mercado.
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