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The Urge

Foto do escritor: Ana Luiza de LimaAna Luiza de Lima

Atualizado: 26 de abr. de 2020

A eminência do processo de escrita para mim é construída numa base que mescla desespero e tempo. Parece um tanto inconveniente que seja necessário que tudo transborde as barreiras do suportável para que as palavras surjam na ordem que precisam se alinhar, mas tudo acontece assim, de um instante para o outro no qual tudo torna-se insuportável.


Eu me abstenho de escrever muitas vezes porque penso no quão distante da realidade se encontram as minhas palavras, elas nascem de mim, mas ao meu ver não servem à proposito algum, então qual o sentido de deixar derramar todo esse peso?


Eu paro então frente ao computador, ou à folha, e vomito. A única palavra capaz de descrever a ação em sua completude é essa, já que um misto compulsão, alívio e tremor percorre meu corpo e se encontra travado na garganta, como um choro ou grito presos por alguém que se reprime continuamente por motivos que nem sabe mais dizer quais são.


Frente às possibilidades de construção textual eu mal titubeio em pensar o que estou escrevendo, não importa o sobre, o que me consome é o processo, processo esse que ao refletir sobre parece que me sobra pouco controle e falta autonomia, é quase como se eu estivesse à mercê de impulsos, e que as palavras se construíssem no papel antes mesmo que eu pudesse pensá-las.


Eu não costumo formular ideias, elas já estão ali esperando para serem colocadas na sua forma mais rudimentar, sem lapidar ou revisar, eu costumo entregar o texto final para que eu leia, essa construção ocorre numa profundeza distante da minha lucidez, e quando me deparo com os escritos finais é difícil reconhecer as construções que há minutos eu mesma fiz. Me reconheço em mim mesma, na distância que construo entre eu e meu texto.

É difícil tentar falar quando pouco se sabe sobre o que se fala, ou quando o sobre não muito importa e o que realmente conta é o caminho, mas eu não costumo me preocupar com destinações, talvez por isso me perco com mais frequência do que me encontro e vivo numa constante duvida de qual seria o certo.


Qual é o caminho?


Esse encontro de alguém consigo mesmo é algo que eu não consigo evitar em fantasiar, já que ando na minha própria contramão nunca tive oportunidade de me encontrar para tomar um café, e logo lembro com frequência das vezes em que li algo meu, me reconheci ali mas parecia-me um eu tão distante que não poderia de fato alcançar.


A escrita traz firmeza às mãos e faz a ansia desaparecer, por quanto tempo dure o desenvolvimento do texto, ao fim sei que tudo vai estar estável, mas o processo rapidamente se esvai, como um pequeno lapso momentâneo de razão. Essas partes constitutivas de mim se vão, pouco a pouco, ou palavra por palavra para uma folha qualquer. Me sinto, enfim, tendo cumprido uma necessidade primal, instintiva, dilacerante.


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