Como os paralelos entre arte e significância passeiam por uma série de pontualidades previamente estabelecidas estamos sempre sob a impressão de que simetria ou balanço é uma máxima no resultado de qualquer ação que tomamos. Uma coleção de ‘vai ficar ficar tudo bem’ permeia a história da humanidade e atingindo esse ponto, o agora, é seguro – e desconfortável – dizer que não vai.
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A esperança de uma homogeneidade não corrobora com a compreensão da vida, que tal qual seria a leitura de uma obra de arte moderna: não há uma resposta, podem haver leituras que tragam uma mas não se esqueça que essas são feitas por aqueles mesmos que cunharam tantos ‘vai ficar tudo bem’.
O entendimento de como eu me sinto, ou melhor, a leitura (já que o entendimento eu deixo para quem gosta de se dizer capaz de responder algo com exatidão) veio durante uma visita despretensiosa a uma exposição do artista Ellsworth Kelly.
As brincadeiras com volumetria e cores que o artista faz com constância durante sua carreira derivam de acordo com o mesmo da sua relação e leitura da arquitetura mas ao ler seu trabalho sem ter lido a proposta curatorial eu imediatamenteme identifico com um de seus quadros: ele representa com distinção como eu sinto.
A abstração iminente de suas obras pode ser um empecilho para seu entendimento já que muito gente traz a arte pra esse lugar de erudição que não pode ser lida sem uma curadoria, sem alguém tomar as rédeas do seu entendimento. Meu maior desafio hoje, como quem estuda arte é me afastar da curadoria em um pensamento inicial que me permita relacionar aquilo que confronto com aquilo que eu mesma selecionei durante os últimos anos. É um exercício de pretensão alguns podem dizer e isso não vem da necessidade de separar a arte de sua explicação ou do olhar de alguém que tem maior domínio sob a mesma mas de poder obter uma compreensão não guiada que possa me fazer criar sentido para minha própria existência ao ser confrontada com outra existência, seja ela de mesma natureza ou não, e isso eu sou vou descobrir depois, ao ter contato com o que aquela exposição realmente propõe.
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O que esse exercício vem me proporcionando é uma redescoberta de uma série de ideias que tive ou estou tendo ao olhar e me identificar ou apenas não me identificar e tentar compreender o porquê, já que para mim, em cada estranhamento há algo a ser buscado, o que me traz a estranha memória do conto da Princesa e a Ervilha.
A introdução das cores no trabalho de Kelly me faz trazer à reflexão nossa relação com o mundo exterior, sendo as cores como os fatores de interferência externos que podem nos influenciar direta ou indiretamente, trazendo novas perspectivas da nossa percepção sobre nós mesmos.
Nem sempre tudo vai ficar bem e isso é uma forma de entender que o mundo não é uma equação matemática, bem como a arte abstrata não pode ser lida através de uma fórmula, a intenção é trazer para o patamar da realidade o entendimento sobre as coisas que não entendemos. O espectro de cores é uma representação abstrata da possibilidade de acontecimentos interconectados da vida, e nós somos diariamente atingidos por seus raios.
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