Retomando os diálogos sobre a evolução da produção cubista no começo do século XX, vimos de perto como Picasso e Braque alcançaram lugares de representação que já não faziam mais jus algum à forma, o abandono de perspectivas como da iluminação (claro-escuro), a assinatura do trabalho, a utilização da moldura (que antes vinha para conter a obra), dentre outros remonta ao Cubismo Analítico, que vem para preencher um espaço de representação que antes não fora creditado: o de como o homem vê.
Aqui não se trata da representação da figura em si, ou do espaço, mas observamos como as pesquisas no campo da fenomenologia passam a influenciar a produção artística já que colocar as alterações de percepção causadas pela luz ou mesmo pela velocidade é uma abordagem nova no campo da pintura. É importante também observar como o título é imperativo para a compreensão da pintura cubista, ao passo que esse altera a relação de temporalidade da pintura com o observador além de ensinar a ele o caminho a ser tomado para a compreensão da mesma. A representação possui um tempo inserido nela mesma e este “segundo tempo” – que vem depois do tempo inicial (o de confronto) – também interfere na leitura feita pela audiência que reconstitui uma imagem fragmentada para ler a obra.
O Cubismo Analítico se fragmenta tanto que se distancia absurdamente da realidade, o que não permite a retomada do reconhecimento, aqui alcança-se o que se chama de Cubismo Hermético.
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Georges Braque: Man with a Guitar (1911-12)
Ao passo que a fragmentação alcança um ponto de não-reconhecimento, se o início da abstração, como Braque e Picasso propunham trabalhar a representação em si, a fragmentação extrema não serve ao objetivo desses artistas – ao contrário do que ocorre com os cubistas órficos, como Delaunay e Léger, que continuam nessa linha.
Braque e Picasso não se conformam com a possibilidade do não entendimento da produção radical, eles propõem então uma maneira de reconectar a pintura à realidade reconhecível, eles introduzem um novo elemento: a palavra.
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Pablo Picasso: Still-Life with Chair Caning, 1912
A entrada de elementos específicos impede que o expectador se perca na possibilidade do abstracionismo, tudo na imagem a conecta diretamente a realidade moderna, à industrialização. O estimulo desse raciocínio na busca do entendimento da linguagem (pintura ou objeto) quebra imediatamente com a ideia ilusória (ou trompe-l’oiel) da representação.
Chegamos então no que se refere como Cubismo Sintético.
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Pablo Picasso: Guitar,Sheet Music and Glass,1912
Nessa época inicia-se também a produção dos papier collé e estes permitem vermos como o processo de produção está conectado ao que acontece através dos signos da modernidade, na colagem abaixo temos, por exemplo, o papel de parede qye traz a natureza, o jornal do dia, que resgata a realidade, abrindo uma janela da obra para o mundo real…).
Já na obra Glass na Bottle of Suze (1912) de Picasso o fundo que é um recorte de jornal que menciona os movimentos relativos à guerra, traz a dimensão da realidade para o trabalho, além disso, essa informação expande a obra, não sendo ‘apenas uma contextualiazação’.
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Na mesma época da produção cubista de Duchamp, suas obras também fazem referência direta à modernidade e à ideia de movimento mas não se preocupava definitivamente com a representação da realidade estática que se observava no cubismo, vemos aqui então o início do movimento futurista.
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Marcel Duchamp: Le Roi et la Reine entourés de Nus vites (1912)
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